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sábado, 6 de novembro de 2021

A morte é uma piada... Só que não tem graça!

 


Marilia Mendonça 

22/07/1995 - 05/11/2021


Em sua crônica o escritor Pedro Bial diz: A morte, por si só, é uma piada pronta.  Morrer é ridículo.  Você combinou de jantar com a namorada,  está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem,  precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde você morre.  Como assim? 

E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta ideia: morrer.  A troco de quê?  Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas e foi em frente. 

Praticou  educação física, quase perdeu o fôlego mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir estudando pro vestibular, mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida e cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida. Mas então decidiu e foi em frente. 

De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis.  Qual é? Morrer é um clichê. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. 

Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu... 

Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. 

Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério?  

Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas.  Ok, hora de descansar em paz.  

Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas.  Morrer é um exagero e, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.  Só que não tem graça...



quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Não se torne vítima de seu próprio veneno...





É inegável o grande valor das abelhas para os seres humanos. Além do mel, as abelhas nos proporcionam vários outros produtos. Também desempenham um papel importante para o meio ambiente, já que realizam uma função ecológica considerada essencial: a polinização. 






Quase noventa por cento das plantas que possuem flores, dependem de polinizadores animais, como as abelhas. Elas fazem a transferência de grãos de pólen de uma flor para outra, o que resulta na formação de frutos e sementes que irão nos alimentar. 





A princípio, apenas em situação de ameaça à colmeia as abelhas apresentariam comportamento agressivo. Ou seja, elas só atacam para defender o local de moradia dela e da família. 



Na época do verão, quando as colmeias se tornam mais populosas, um ataque pode ser provocado por qualquer tipo de perturbação. Isso faz parte do seu instinto de sobrevivência. 






As abelhas tem um ferrão farpado, como se fosse a ponta de uma  flecha. Quando uma delas pica um ser humano ou um animal, o ferrão que entra pela pele da vítima fica cravado e não sai, pois as farpas seguram o ferrão. 




Ao tentar sair dali, a bolsa de veneno e parte do intestino da abelha acabam sendo arrancados. Logo depois, em decorrência dessa mutilação, a abelha morre. O ataque da abelha pode até prejudicar um pouco a sua vítima, mas é a abelha que se torna mais prejudicada, pois perde a vida. 





Com o ser humano também ocorre algo parecido.  Quem vive atacando outras pessoas, seja por meio de fofocas, intrigas, maledicências ou destila ódio e vomita rancor e mágoa, pode até prejudicar suas vítimas, mas sempre acabará se tornando vítima de sua própria maldade. 
Observe se há felicidade em quem vive assim...
 

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Perdas, luto e morte



Falar sobre a morte não é algo muito comum, pois nem todo mundo se sente confortável para falar sobre o assunto. Além das crenças populares que afirmam dar azar falar sobre o tema, é dolorido pensar na possibilidade de perder alguém da família ou de seu círculo de amizades. Porém é fundamental buscarmos discutir e entender um pouco mais sobre o tema. 

Em seu livro "Do fim ao começo falando sobre Perdas, Luto e Morte", a psicóloga clínica Maria Cristina Guarnieri diz que "numa sociedade em que a pauta é definida pela suficiência, e as tristezas e impotências são vividas como doenças, é fundamental ter essa discussão. 

Pensar apenas no aspecto da vida foge da realidade e a realidade atual vem obrigando a conviver com a morte todos os dias. Com a pandemia, o velório tradicional e as cerimônias de despedida foram suspensas, o que vem tornando mais difícil a aceitação da morte e o processo de luto. Principalmente quando não se vê o corpo antes do sepultamento, não se guarda a imagem do ritual de despedida. 

Entender a finitude da vida é um processo que demanda algum tempo, até que se consiga conviver com a ausência de um ente querido. Isso pode causar perturbação e dor naqueles que enfrentam a fase de luto. Para quem tem religião a fé ajuda, mas para quem não tem religião, é preciso encontrar força para superar a perda junto com outras pessoas.

Há um conceito desenvolvido pela Dra. Elizabeth Kubler-Ross, que fala dos cinco estágios do luto. Inicialmente eles foram concebidos para refletir as emoções vivenciadas por pacientes terminais e suas famílias. Mais tarde, eles também foram usados ​​para descrever as maneiras como reagimos após uma morte.



Os cinco estágios do luto 

1. Negação: O primeiro dos cinco estágios do luto é a negação, que geralmente ocorre logo após a morte de alguém. Dizem alguns: ...isso não pode estar acontecendo... Como se estivesse numa espécie de dormência ou torpor, as pessoas evitam lidar com a realidade.

2. Raiva: A raiva é uma parte natural do luto. Você pode sentir raiva da pessoa que morreu por deixar você para trás, ou raiva de você mesmo por não ter previsto ou evitado a morte de alguma forma. 

Também pode surgir raiva do médico que não conseguiu salvar seu ente querido, culpar o hospital pelo mal atendimento ou culpar a Deus por levar embora quem você ama. Pode também sentir raiva por não ter passado mais tempo junto com a pessoa ou não ter feito algo mais para evitar a morte.  

3. Negociação: Depois que alguém morre, pensamentos surgem: "E se eu tivesse pedido a ele para ficar em casa naquele dia?... Se ao menos eu a tivesse persuadido a não sair... Se eu tivesse feito ela parar de fumar anos antes... Quero acordar e descobrir que isso é um sonho...

4. Depressão: Essa é uma fase crítica, quando o desespero, a desesperança, a dormência, a perda do apetite, os problemas para dormir ou acordar, o choro, a resistência em falar com outras pessoas surgem de modo mais intenso. Assim como os outros estágios de luto e perda, esse estágio pode durar algum tempo, indo e vindo em ondas.

5. Aceitação: O último dos cinco estágios do luto é a aceitação. Alcançar esse estágio não significa que de repente você ficará bem com a morte ou que voltará a ser a pessoa feliz que era antes. Significa simplesmente que você fez as pazes com sua perda.  

É um equívoco considerar que os estágios do luto acontecem em ordem, um por um. A verdade é que a perda nos leva a direções muito diferentes. É melhor pensar nos estágios mais como maneiras de pensar sobre o que você pode estar sentindo, em vez de uma lista de tarefas pendentes, que você irá concluindo em ordem. Não há uma só maneira correta de sofrer... 


Luto coletivo 

Tragédias que envolvem muitas pessoas sempre causam comoção geral. Isso foi uma realidade diante do rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, da queda do avião com os jogadores da Chapecoense, do incêndio da boate Kiss e do Ninho do Urubu.

E o que falar dos massacres que ocorrem nas ruas, nas comunidades ou em escolas, assim como eventos naturais como enchentes e terremotos que causam muitas perdas ou morte de grandes ídolos, que costumam despertar nas pessoas sentimentos variados.

A pandemia também vem nos obrigando a conviver com a morte todos os dias, o que nos causa grande comoção, uma mistura de emoções intensas diante de um acontecimento dramático. 

Se já é difícil para cada um de nós entender exatamente o que sentimos ao ver as mortes em série provocadas pela covid-19, encontrar uma palavra para definir o que se passa dentro de milhões - ou bilhões - de pessoas é uma tarefa ainda mais complicada. 

Há quem defina esse sentimento compartilhado pelas pessoas mundo afora como Luto Coletivo. A sensação de que todos nós estamos no mesmo barco pode trazer algum consolo, mas também pode despertar em nós o luto pelos nossos planos interrompidos, isso porque vivemos luto não apenas por mortes, mas também outras perdas em nossa vida. 

Uma doença grave que nos afasta de quem amamos, o término de um namoro, casamento ou de uma amizade, a perda de um emprego ou de uma casa ou de um veículo, cuja aquisição foi muito esperada, provoca a sensação de perda. Mas também envolve outros fatores, como a perda do nosso mundo como antes conhecido, perda da rotina de nossas atividades, dos nossos encontros etc. 

Além do isolamento social, muitos de nós vem enfrentando o impacto negativo da pandemia em nossa vida financeira. Como a pandemia engendra um processo de luto pela perda da vida normal, ficamos muito sensíveis. 

Embora as reflexões e o pesar sejam amplificados pelo coletivo, não são generalizados, até porque a realidade nos toca de maneiras distintas, com maior ou menor intensidade. 

Se não somos afetados diretamente por alguma perda maior, a empatia nos faz sentir as perdas de pessoas que conhecemos ou nem conhecemos. Por vários motivos nos sentimos invadidos pelo medo, que pode nos causar ansiedade, frustração, sensação de desamparo, revolta e outros sentimentos. E é esse caldeirão de emoções que pode colocar em risco a nossa saúde mental. 

Há quem não se abala nem um pouco com as imagens de desespero que vemos todos os dias, porém para muitos o desalento causado pela covid-19 é tão grande que vem causando depressão, estresse e tristeza. 

Para algumas pessoas, a angústia é maior e elas a expressam isso fisicamente através do aperto no coração e a sensação física é forte. É a linguagem que o corpo usa para falar desse sofrimento.

Não é possível estimar a duração desse luto coletivo, que poderá durar meses ou anos. Ainda que em intensidades diferentes, para alguns esse luto poderá se manter por toda a vida. 

Algumas pessoas não conseguirão elaborar as perdas e terão sofrimento excessivo, incluindo transtornos físicos e mentais. Outros poderão suportar melhor, adaptando-se à nova realidade.




Embora o pós-pandemia fique marcado como uma cicatriz em nossa história, temos certeza de que algum dia essa pandemia vai acabar.  Enquanto isso não acontece, haverá o risco de suicídios, homicídios e violência doméstica. 

A saúde mental poderá ser muito afetada, por isso desde já é preciso iniciarmos um processo de avaliação e cura. Para se proteger desses males, evite se focar demais em notícias que mostram hospitais superlotados, número excessivo de mortes e sofrimento dos doentes e familiares. 

Dê atenção às informações sobre curas e ações de solidariedade. Não preste atenção nas estatísticas e procure adotar uma rotina saudável, com boa alimentação e exercícios físicos. 

Tome cuidado com as fake news. Ocupe seu tempo com um trabalho ou cuidados com sua casa e não esqueça de reservar momentos para relaxamento e momentos prazerosos, como ouvir música ou ver filmes. 

Atividades virtuais em grupo também quebram a sensação de isolamento e desamparo. Mantenha em contato com amigos e familiares, seja por telefone, redes sociais e até conversas na varanda dos apartamentos. 

Não opte por sofrer calado. Tenha uma rede de apoio para tornar esse momento menos pesado. Apegue-se à fé. Atividades religiosas e/ou espirituais fortalecem e ajudam a aliviar o sofrimento. 

Reuniões e cultos virtuais são uma boa opção nesse momento. Faça suas orações junto com um grupo através de vídeo conferência. Se precisar, procure ajuda de um médico ou busque atendimento psicológico online, individual ou em grupo. 

Lembre-se de que essa crise aguda vai passar e que será possível retomar a vida como antes, talvez de forma diferente e até melhor. Cultive a esperança e não permita que se instale uma desorganização interior. 

Os primeiros socorros psicológicos  são eficazes para reduzir o sofrimento psíquico decorrente de um trauma. A intervenção precoce permite acionarmos nossos recursos internos. 

Vale fazer uma reflexão profunda. Vai sobreviver a tudo isso quem tiver a capacidade de ressignificar seus sentimentos e relações, quem tiver capacidade de doar amor, de perdoar, de esquecer coisas que não têm muito sentido. Abandone o orgulho e passe a dar valor às pessoas. Terá mais chances de sair ileso e menos machucado desse luto coletivo, quem cultivar a fé e a esperança... 



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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.

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